A Tanzânia é bastante rica em termos de reservas de gás natural, algo cada vez mais evidente com as descobertas dos últimos anos. Hoje estima-se que as reservas sejam na ordem dos 1,614 mil milhões de metros cúbicos que são detidos e geridos pela empresa governamental Tanzania Petroleum Development Corporation (TPDC) (LEX Africa, 2017). Desde 2011, como referido anteriormente, a Índia tem suportado o governo da Tanzânia nas operações de prospeção de gás natural o que ajudou o país a emergir como um gigante do gás natural no panorama internacional.
Para 2018 a Tanzânia espera conseguir acordos com diversas empresas transnacionais de exploração de petróleo e gás natural o que ajudará a criar a infraestrutura necessária para posicionar o país como um exportador destes tipos de energia. No caso do gás natural, os grandes investimentos estão na construção de um complexo industrial para a liquefação do gás natural a vir a ser explorado. Também se espera a construção de um novo terminal marítimo destinado à exportação deste, e de outros, tipos de combustíveis líquidos. O terminal, um investimento na ordem dos 30 mil milhões de dólares americanos, será construído através de uma joint-ventureentre a TPDC e diversos playersprivados como a Royal Dutch Shell, Statoil, Exxon Mobil e a Ophir Energy (Ng’wanakilala, 2017). O banco central da Tanzânia afirma que apenas o início dos trabalhos neste complexo industrial poderá representar um incremento de dois pontos percentuais no crescimento económico anual do país.
Para o setor energético indiano a abundância de reservas de gás natural na Tanzânia é uma excelente oportunidade sem precedentes porque, como visto, por um lado este é um país com o qual a Índia já detém boas e duradoras relações, mas também por outro lado um país relativamente próximo. Os protocolos existentes na área da segurança e navegabilidade garantem que o transporte do gás natural possa ser feito por via marítima.
O transporte de gás natural sob a forma de GNL em cargueiros especializados não é uma novidade, é uma prática bastante comum que tem vindo a crescer nos últimos anos. Segundo a International Gas Unionsó em Janeiro de 2017 foram encomendados 121 destes navios (IGU, 2017, p. 42). A mesma fonte reforça que o maior aumento na procura de cargueiros GNL provem da Ásia, China, Paquistão e da própria Índia que já importa este combustível de outros países africanos (IGU, 2017, p. 4).
A procura de cargueiros GNL é acompanhada por projetos de construção de terminais de regaseificação — terminais que permitem reverter o processo de liquefação — que entre a China e a Índia são neste momento 11 (IGU, 2017, p. 5).
Ao importar GNL da Tanzânia, a Índia e o seu setor energético também têm uma vantagem bastante relevante, reduzem a sua dependência dos países do médio oriente e outros em zonas politicamente instáveis que têm sido o palco dos últimos conflitos mundiais. Com a aposta no gás natural como substituto do carvão e diversificação das suas fontes / obtenção do mesmo em vários países do continente africano, a Índia poderá também atingir níveis de segurança energética sem precedentes.
A atual dependência petrolífera da Índia em relação ao petróleo proveniente do Médio Oriente estimava-se em 2016 estar nos 60% (IndianEconomy, 2016) o que põe em causa a segurança do país e o seu crescimento futuro. Para que os planos referidos anteriormente de eletrificação e expansão da indústria tenham sucesso é necessário recorrer a fontes energéticas disponíveis no estrangeiro, como o caso do gás natural na Tanzânia.
A aposta na Tanzânia para em termos de GNL está alinhada com a política externa indiana da última década o que poderá revelar-se como uma forma de facilitar a entrada das empresas indianas nos mercados africanos, mais especificamente na África Austral, na sua comunidade de desenvolvimento e fortalecer a sua posição junto da União Aduaneira da África Austral. Em 2016, a Índia representava 20% das exportações da Tanzânia (HCI, 2017) o que poderá conceder à Índia e às suas empresas uma posição negocial bastante forte. É expetável que com as futuras importações de GNL da Tanzânia isto ainda seja mais evidente nas próximas décadas.
O setor da exploração do gás natural na Tanzânia está, de certa forma, a ser moldado pelo governo indiano já que as primeiras prospeções e projetos o envolveram. A Índia com isto conseguiu posicionar-se como um parceiro de confiança e, na prática poderá criar uma oferta de gás natural quase personalizada para responder às suas necessidades específicas. Um exemplo disto é quando vemos que hoje a Tanzânia está a tentar posicionar-se como um exportador de gás natural sob a forma de GNL – uma das principais necessidades da Índia.
Referências
- IGU. (2017). 2017 World LNG Report. Obtido de International Gas Union: https://www.igu.org/sites/default/files/103419-World_IGU_Report_no%20crops.pdf
- IndianEconomy. (22 de Janeiro de 2016). India aiming to diversify crude import sources. Obtido de Indian Economy: https://www.indianeconomy.net/external-sector/india-aiming-to-diversify-crude-import-source/
- LEX Africa. (10 de Maio de 2017). Tanzania moves swiftly on natural gas exports. Obtido de LEX Africa: https://www.lexafrica.com/tanzania-moves-swiftly-on-natural-gas-exports/
- Ng’wanakilala, F. (24 de Janeiro de 2017). Tanzania hopes for LNG plant agreement with oil majors by 2018. Obtido de Reuters: https://www.reuters.com/article/us-tanzania-gas/tanzania-hopes-for-lng-plant-agreement-with-oil-majors-by-2018-idUSKBN1581F4
- HCI. (2 de Maio de 2017). India expands water sector cooperation with Tanzania. Obtido de High Commission of India: http://hcindiatz.org/whatsnew-water.php
- IndianEconomy. (22 de Janeiro de 2016). India aiming to diversify crude import sources. Obtido de Indian Economy: https://www.indianeconomy.net/external-sector/india-aiming-to-diversify-crude-import-source/