Como defendido por Niklas Luhmann (em a Improbabilidade da Comunicação) a comunicação é essencial em qualquer processo de relação humana como sistema básico de mediação entre os homens que, até como a própria origem da palavra nos transmite, permite pôr em comum ideias, sentimentos etc. É ao mesmo tempo bastante improvável mas acaba por acontecer, em resumo, devido à sua importância.
Após a utilização de sons e da evolução biológica necessário, o homem desenvolveu as linguagens mais complexas e semelhantes às que utilizamos nos dias de hoje. Como defendido por Saussure, Pierce e Fabre a linguagem é “uma invenção artificial, resultado de uma convenção entre os homens”. Esta é interpretada pelos utilizadores de forma distinta, onde existe a possibilidade de subjetividade, levantando divergências na relação entre os símbolos transmitidos e seu significado. O facto de esta ser uma convenção demonstra-nos a necessidade (e o sucesso) das relações de proximidade e de partilha de conhecimento entre os homens.
A comunicação nas primeiras sociedades era oral e transmitia experiências, normas e valores, entre as gerações, através de rituais e marcas corporais. Com a evolução técnica as “marcas vieram a ser exteriorizadas” para a escrita sendo esta vista como “uma técnica do esquecimento” (Guerreiro, 2014: 40). Esta exteriorização, para além de fundada na evolução da técnica demonstra uma crescente necessidade de comunicar mais e melhor devido aos desafios ambiente crescentes enfrentados pelas civilizações e também em manter a coesão (com ao aumento do número dos seus membros).
Após os primeiros atos comunicacionais referidos, que levaram ao surgimento dos sistemas sociais e aos seus posteriores aperfeiçoamentos, desenvolveu-se a escrita como resposta à necessidade fundamental de fixar o pensamento, isto é, poder transferi-lo para suportes exteriores à mente humana. Responsável por profundas transformações sociais “só podendo equiparar-se (…) à invenção da roda” (Guerreiro, 2014: 43) esta marca a passagem da pré-história para a história através da capacidade de criarmos registos fidedignos para as gerações vindouras e libertar o nosso pensamento do pesado fardo da memória falível para o podermos ocupar com o raciocínio lógico, mais estruturado e abstrato.
A imprensa, através de conjuntos de técnicas mecanizadas de replicação da escrita teve um papel importantíssimo na evolução humana e no processo de globalização. Ao “disseminar desmedidamente o número de exemplares de informação” (Guerreiro, 2014: 47), de forma anteriormente impossível através de métodos de reprodução manuais, criamos uma sociedade onde o conhecimento não era restrito a certas classes sociais, mas sim algo liberalizado e acessível a todos. Este novo meio de comunicação acabou, de certa forma, por transformar as diversas comunidades quase isoladas e com ideologias por vezes bastante díspares em países coesos. Esta potencialidade foi utilizada ao longo da história, primeiramente por instituições religiosas (evangelizando o mundo), e mais tarde por instituições políticas o que levou à criação de unidades supranacionais em torno de ideologias ou crenças. Como exemplo destas transformações temos também o Iluminismo onde entendemos claramente que ideias simples e igualmente aceites por todos podem ser bem mais poderosas e catalisadoras de mudanças do que o poder instaurado — a única limitação ao seu sucesso resume-se à abrangência aos meios de comunicação utilizados. Transformações como esta são obviamente tumultuosas e até levaram às grandes guerras onde certos blocos lutavam pelo domínio de grandes zonas geográficas e/ou do mundo.
A crescente unidade ideológica global, estabilidade política e massificação do conhecimento conjuntamente com evoluções da técnica, especialmente na área da comunicação baseada na eletricidade, levou ao desenvolvimento de novos meios telemáticos que permitiram organizar a sociedade de forma ainda mais eficiente e quebrar completamente as barreiras espácio-temporais entre as comunidades.
Assim, nos dias hoje, através da Internet considerada como “a rede das redes” (Guerreiro 2014: 231), que como o mais recente meio de comunicação incorpora todas as potencialidades dos seus precedentes (parafraseando McLuhan), conseguimos organizarmo-nos em números e estruturas cada vez maiores e mais complexas.
O progresso cientifico atingiu níveis de crescimento nunca antes visto chegando aos dias de hoje onde o somatório do “conhecimento duplica a cada 4 anos.” (The Economist 2015). Viver neste mundo altamente globalizado e onde as distâncias e o tempo se tornaram supérfluos significa viver numa era onde a própria informação e conhecimento começam a ser banais e o foco da atividade humana projeta-se cada vez mais na capacidade de inovar e resolver questões de ordem social. Estamos assim mais próximos da nossa natureza fundamental: as necessidades de relacionamento interpessoais que sustentam a continuidade da espécie.
Referências
- FABRE, M. (1980). História da Comunicação. Lisboa: Moraes;
- GUERREIRO, A. D. (2014). Da Imprensa aos Novos Media e Sociedade em Rede. In: História Breve dos Meios de Comunicação: Da Imanência Pensante à Sociedade em Rede. Almada: EDLARS – Educomunicação e Vida;
- LUHMANN, N. (2006). A improbabilidade da comunicação, Lisboa: Edições Vega;
- SAUSSURE, F. (1916) Curso de Linguística Geral, Lisboa: Dom Quixote.